Quem sou eu

Arquiteto e Urbanista, Artista Plástico, caricaturista com publicações no Pasquim, Globo, Jornal do Brasil, Jornal do comércio, Opinião, Playboy e outros. Capas e ilustrações para livros, editoras ZAHAR, José Olympio, FTD e outras. Prêmio de “Ilustrador do Ano”, Clube de Criação – S.P - 1989, Prêmio da Fundação Nacional do Livro “Melhor Ilustração Infantil" - 1989. Mestrado e doutorado em comunicação ECO-UFRJ. Professor adjunto da faculdade Santa Úrsula, de 1975-2000. Professor de desenho e pintura da Escola de Artes visuais do Parque Lage com o curso "Desenho Contemporâneo: produção de sentido e narratividade" - autor do livro "Arte, Artistas e Arteiros" 2011 (versão digital)Editora Gato Sabido - www.gatosabido.com.br E-mail: orlandommollica@gmail.com

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Rio Lado B: Imprensa

 

Matéria no suplemento Tijuca do jornal O Globo, dia 12 de julho.




Matéria no caderno Morar Bem do jornal O Globo, dia 22 de julho.


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Exposição "Rio Lado B - anotações imprecisas"



Uma crônica paisagística da ZN (Zona Norte) como acontecimento pictórico que se realiza na própria fruição estética da mesma: eis a obra.

Desprovidas de um tempo cronológico que inclui um passado, um presente e um futuro precisos, a pintura paisagística; assim como a paisagem de um conjunto de áreas da ZN como o Rio Comprido, Catumbi, Rocha, São Cristóvão, Caju, Del Castilho, Inhaúma, Pilares, Higienópolis, Bonsucesso, Manguinhos, Maré, Abolição, Engenho de Dentro, Encantado, Água Santa, Barreira do Vasco, Pavuna, Vigário Geral, Parada de Lucas, Cordovil, coexistem num tempo mítico e impreciso: indeterminado e desmedido, somente capaz de ser percebido poeticamente como fenômeno singular e autônomo, independentemente da marcha inexorável do tempo histórico: das grandes obras rodoviárias que estupram o Rio de Janeiro em sua marcha para o progresso.

Assim como esses lugares da ZN desacontece como lugar do progresso, “a pintura é fatal” (G. Braque). Ambas tangenciam o tempo cronológico. Resistem como cultura e linguagem respectivamente, permitindo-se perceber apenas no tempo mítico da contemplação e da fábula: o tempo da crônica, como quer Deleuze. E no caso específico deste trabalho, trata-se da contemplação de paisagens consideradas como fora daquilo que caracteriza a ciade do Rio de Janeiro, ou seja, paisagens que não se encontram na categoria de “cartões postais” da cidade.

Todavia, a contemplação dessas paisagens da ZN do Rio, ora em questão é oposta àquela que se produz na indústria do espetáculo midiático, por meio de um voyeurismo fugaz, histérico, marcado comumente pela banalização da violência, exposta diariamente ao cidadão comum, que sentado confortavelmente em sua sala de jantar, tudo assiste no noticiário de TV, impassível e impotente.

Neste trabalho este telespectador é representado pela sua própria ausência, nas cadeiras e mesas vazias pintadas à margem das cenas. De um lado ou de outro da tela, esses prosaicos arranjos de mobiliários típicos dos interiores das casas aburguesadas simbolizam a indiferença e a impotência apática do cidadão comum.

Nesse sentido, a melhor forma que encontrei como artista visual para pensar, perceber, e visualizar as paisagens desses lugares da ZN, e dá-los a ver fabulados como pintura, que remete do ponto de vista de uma classificação dentro da história da arte mais genérica aos movimentos “Impressionista” e “Pós-Impressionista”. Esses movimentos surgidos na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, no seio da modernidade e da industrialização européia, com o passar do tempo se configuraram como “escolas” de pintura se espalhando pelo mundo ocidental, sofrendo adaptações singulares em cada país, muitas vezes exageradas e mal assimiladas, resultando daí, no entanto, frequentemente pintores que criaram uma pintura muito pessoal.

No Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, essas áreas da Zona Norte e mais especificamente do Centro estão associadas a pintores paisagistas como Antonio Parreiras, Eliseu Visconti, Lucílio e Georgina de Albuquerque, Rodolfo Chamberlland, Gustavo Dall’Ara, irmãos Timótheo da Costa, Carlos Oswald, Bustamante Sá, Gastão Formenti, Manuel Santiago, pintores do Núcleo Bernardelli, e outros artistas, como o desenhista e gravador Oswaldo Goeldi; todos muito importantes como cronistas visuais das grandes transformações “progressistas” do Rio de Janeiro, desde o começo do século XX, no Governo do Prefeito Pereira Passos, com a abertura da Av. Rio Branco, e mais tarde, com o Plano Agache, o Desmonte do Morro do Castelo e a abertura da Av. Presidente Vargas.

Todo esse pensamento urbanístico reincidente que provém de um olhar das classes abastadas da população, as elites pensantes, os políticos em geral, privilegiou a ideologia rodoviarista (a abertura de grandes avenidas, viadutos e túneis), em detrimento a um projeto mais amplo e mais complexo que, além de levar em conta as questões sócio-culturais e patrimoniais da cidade, tentasse também resolver sobretudo a questão da carência de habitação, que atinge, ainda hoje e cada vez mais,   dramaticamente, as classes menos favorecidas. Definitivamente no Brasil, assim como no Rio de janeiro não existe, de fato, uma política habitacional digna desse nome.
Em outras palavras, todas essas obras foram pensadas e executadas exclusivamente privilegiando o capital.

Essas intervenções a que nos referimos acima se consolidam na segunda metade do século XX com o Plano Doxíades, com a abertura dos túneis e viadutos que cortam o Catumbi e o Rio Comprido, e mais tarde as Linhas Vermelha e Amarela. Nesse momento da história da cidade (2012), a sanha rodoviarista continua associada ao capital financeiro internacional em projetos articulados com as grandes corporações e pretensamente ligados à criação de novas centralidades para a cidade, como o Porto Maravilha. Rodoanéis, túnel da Covanca, em Jacarepaguá, expandindo a fronteira urbana do Rio rumo a Guaratiba complementam esse macroplanejamento.

Com efeito, o meu trabalho como artista visual foi associar a minha própria memória afetiva, seja como morador da ZN por dezoito anos da minha vida, seja mais tarde como arquiteto urbanista, nas minhas andanças por alguns desses lugares, com impressões e sensações visuais diretas que eles me causam agora, sem me deixar levar por quaisquer tendências ou modelos estéticos que comumente têm sido apresentados como “contemporâneos”.

A solução plástica que encontrei e que me parece que responde e corresponde às sensações, de um modo geral, que senti ao longo do trabalho surgiu da prática direta da pintura dentro do atelier, com base em anotações e estudos feitos o pastel oleoso em papel formato A-4, sobre colagens e desenhos realizados de memória que remetiam incidentalmente a essas escolas que provém do Romantismo da passagem do século XVIII para o XIX e das primeiras vanguardas que se sucederam da segunda metade do século XIX até a primeira metade do século XX: Impressionismo, Pós-Impressionismo, Expressionismo.
Nesse sentido, posso compreender e mesmo assumir como atitude e partido conceitual deste trabalho, a revisitação de técnicas e soluções estéticas já adotadas pelos pintores, acima citados, sobretudo os que pintaram a cidade do Rio de Janeiro até a metade do século XX,  agora  porém trabalhadas em telas de grandes formatos com novos materiais e novos procedimentos muito diferentes das tradicionais tinta a óleo sobre a tela de linho cru, usadas comumente por aqueles pintores.

Penso que, longe de celebrar um saudosismo estético, essa “repintura”, ou “pós-produção, no sentido de uma mixagem de clichês rearranjados de maneira diferente por mim, traz de novo com ela, repõe na cena artística deste começo de milênio, narrativas bem humoradas, satíricas, retomando um colorido assumidamente dissonante, que provém em sua gênese dos pintores do Veneto Renascentista.

Juntamente com essa preocupação formal de rever o problema da harmonização de uma multiplicidade de coloridos muito contratantes mantendo, no entanto, algumas convenções clássicas do paisagismo, o presente trabalho pretende somar esforços e contribuir para a discussão da pintura e seu papel como linguagem plástica dentro do contexto das artes visuais, como imagem na atual fase da modernidade, assim como avaliar como sua potência como meio de expressão artística e capacidade poética para retratar a paisagem dessas regiões inexpressivas da ZN do Rio de hoje, permitindo exercer minha melhor forma de pensá-las, senti-las, bem como de dá-las a ver, criticamente, ao público.

Orlando Mollica
Abril - Maio/2012




 Canto de Sabiá na Boca do Túnel (1,82 cm X 1,30 cm)



Corcovado escalavrado (40 cm X 1m)



Giverny em Acari (1,82 cm X 1,30 cm)



O Grande Devaneio de Cabral (1,82 cm X 1,30 cm)



Porto das mil maravilhas (80 cm X 1m)



Rosas na linha vermelha (40 cm X 1m)



Tráfego, balões, túnel e viaduto (1,82 cm X 1,30 cm)



Amigos que foram dos amigos (60 cm X 1m)



"A ronda na favela" d'après Dall'ara (1,82 cm X 1,30 cm)



Botando o boi na sombra do Sumaré (1,82 cm X 1,30 cm)